Encontrado no site do 2010, um outro artigo (ver post anterior - Genética da população de São Tomé) sobre investigação efectuado em São Tomé e Príncipe:
Sendo a malária uma doença que ainda mata em África, a descoberta de uma molécula activa com função anti-malárica é um passo determinante para erradicar a doença. Maria do Céu Madureira é a voz do projecto “Paguê”, uma iniciativa que visa comprovar a actividade terapêutica das plantas. Para o efeito, contou com a ajuda preciosa dos terapeutas tradicionais de São Tomé e Príncipe.
O homem sempre teve uma estreita relação com a natureza. As plantas, mais do que ornamentos visuais, podem surpreender a ciência e ser um parceiro importante para a erradicação de doenças. O projecto Paguê é disso exemplo. Trata-se de uma iniciativa que privilegia a investigação científica e que trata as plantas como fortes aliados. De forma a dar uma vertente mais prática às aulas de ciências farmacêuticas, algumas alunas do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz rumaram para São Tomé e Príncipe.
Os terapeutas tradicionais – Verdadeiros dicionários botânicos
Maria do Céu Madureira, professora no Instituto, é a voz do projecto. A ideia de ir recolher plantas em São Tomé e Príncipe não foi impensada. Estas ilhas detêm uma flora muito rica, uma verdadeira extensão botânica, ainda muito pouco explorada. A primeira fase do projecto trouxe informações úteis pela voz de quem mais sabia, os terapeutas tradicionais. Mais do que catalogar novas informações, o projecto permitiu trazer cerca de 50 espécies medicinais diferentes, posteriormente analisadas em contexto laboratorial.
O contacto directo com os terapeutas foi fundamental. Sem eles, seria impensável ter acesso a essa fonte de conhecimento, que vai desaparecendo à medida que os curandeiros morrem. “É realmente uma fonte de sabedoria imensa que, depois, os investigadores, nos laboratórios, podem utilizar para direccionar as suas pesquisas”, confirma Maria do Céu Madureira.
Tagitinina c - uma descoberta importante
Uma das espécies identificadas cientificamente e que já foi alvo de investigação laboratorial é a titonia diversifolia, mais conhecida em São Tomé como o “Girassol”. Esta planta contém a Tagitinina C, um composto activo, que provou ter uma acção anti-malárica. Esta descoberta só foi possível depois de um terapeuta tradicional ter mostrado a planta que usava para curar a malária. Neste momento, conviria dar continuidade ao processo, “fazer interessar a indústria por este tipo de compostos, que pode ser muito útil para a população de São Tomé e a outros países onde a malária é endémica e é um problema muito grave”, acrescenta a investigadora.
O aparecimento de doenças incuráveis, o ressurgimento de doenças consideradas extintas, ou a resistência aos fármacos, criam a necessidade de estudar novas alternativas. A etnofarmacologia pode então ser um aliado importante na pesquisa de novas moléculas. A Tagitinica C actua sobre o parasita da malária humana e a aplicação prática desse estudo pode ganhar terreno em benefício da população em África.
Um negócio sem regulamentação
A comercialização dos medicamentos à base de plantas ainda não está regulamentada. Apesar das disposições comunitárias, estes remédios, muitas vezes vendidos em ervanárias, continuam a entrar no mercado português como produtos dietéticos ou alimentares. “Não estão sobre a alçada, até agora, do Ministério da Saúde nem do Infarmed, que é quem regula e tutela toda a parte do medicamento”, informa Maria do Céu Madureira. A Lei, que deveria estar em vigor desde o dia 1 de Novembro de 2004, obriga todos os países membros da União Europeia a considerar como medicamento os produtos que tenham uma função terapêutica, incluindo os produtos à base de plantas. Nesse sentido, utilizar um medicamento sem prescrição médica ou aconselhamento farmacêutico continua a ser um risco. Há produtos que detêm uma forte componente tóxica. “Não nos podemos esquecer dos últimos avanços na área do cancro. A grande maioria dos últimos produtos que surgiram no mercado são, ou de origem sintética, ou de origem exclusivamente natural. Portanto, não estamos a falar apenas dos cházinhos para a digestão ou para a dor de cabeça”, avisa a investigadora
Estudo botânico, uma investigação com bons resultados
Uma das premissas desta investigação consiste na análise da actividade biológica nas plantas. Os dados obtidos em laboratório confirmam que, em 76 por cento dos casos, os estados brutos das plantas apresentam uma actividade antibacteriana ou antifúngica. Os resultados são surpreendentes e comprovam a eficácia daquilo que os terapeutas tradicionais já manuseiam há muitos tempo, uma sabedoria, que é agora um forte contributo para a investigação em Portugal.
Sofia Pinheiro - 07/12/2005
Sendo a malária uma doença que ainda mata em África, a descoberta de uma molécula activa com função anti-malárica é um passo determinante para erradicar a doença. Maria do Céu Madureira é a voz do projecto “Paguê”, uma iniciativa que visa comprovar a actividade terapêutica das plantas. Para o efeito, contou com a ajuda preciosa dos terapeutas tradicionais de São Tomé e Príncipe.
O homem sempre teve uma estreita relação com a natureza. As plantas, mais do que ornamentos visuais, podem surpreender a ciência e ser um parceiro importante para a erradicação de doenças. O projecto Paguê é disso exemplo. Trata-se de uma iniciativa que privilegia a investigação científica e que trata as plantas como fortes aliados. De forma a dar uma vertente mais prática às aulas de ciências farmacêuticas, algumas alunas do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz rumaram para São Tomé e Príncipe.
Os terapeutas tradicionais – Verdadeiros dicionários botânicos
Maria do Céu Madureira, professora no Instituto, é a voz do projecto. A ideia de ir recolher plantas em São Tomé e Príncipe não foi impensada. Estas ilhas detêm uma flora muito rica, uma verdadeira extensão botânica, ainda muito pouco explorada. A primeira fase do projecto trouxe informações úteis pela voz de quem mais sabia, os terapeutas tradicionais. Mais do que catalogar novas informações, o projecto permitiu trazer cerca de 50 espécies medicinais diferentes, posteriormente analisadas em contexto laboratorial.
O contacto directo com os terapeutas foi fundamental. Sem eles, seria impensável ter acesso a essa fonte de conhecimento, que vai desaparecendo à medida que os curandeiros morrem. “É realmente uma fonte de sabedoria imensa que, depois, os investigadores, nos laboratórios, podem utilizar para direccionar as suas pesquisas”, confirma Maria do Céu Madureira.
Tagitinina c - uma descoberta importante
Uma das espécies identificadas cientificamente e que já foi alvo de investigação laboratorial é a titonia diversifolia, mais conhecida em São Tomé como o “Girassol”. Esta planta contém a Tagitinina C, um composto activo, que provou ter uma acção anti-malárica. Esta descoberta só foi possível depois de um terapeuta tradicional ter mostrado a planta que usava para curar a malária. Neste momento, conviria dar continuidade ao processo, “fazer interessar a indústria por este tipo de compostos, que pode ser muito útil para a população de São Tomé e a outros países onde a malária é endémica e é um problema muito grave”, acrescenta a investigadora.
O aparecimento de doenças incuráveis, o ressurgimento de doenças consideradas extintas, ou a resistência aos fármacos, criam a necessidade de estudar novas alternativas. A etnofarmacologia pode então ser um aliado importante na pesquisa de novas moléculas. A Tagitinica C actua sobre o parasita da malária humana e a aplicação prática desse estudo pode ganhar terreno em benefício da população em África.
Um negócio sem regulamentação
A comercialização dos medicamentos à base de plantas ainda não está regulamentada. Apesar das disposições comunitárias, estes remédios, muitas vezes vendidos em ervanárias, continuam a entrar no mercado português como produtos dietéticos ou alimentares. “Não estão sobre a alçada, até agora, do Ministério da Saúde nem do Infarmed, que é quem regula e tutela toda a parte do medicamento”, informa Maria do Céu Madureira. A Lei, que deveria estar em vigor desde o dia 1 de Novembro de 2004, obriga todos os países membros da União Europeia a considerar como medicamento os produtos que tenham uma função terapêutica, incluindo os produtos à base de plantas. Nesse sentido, utilizar um medicamento sem prescrição médica ou aconselhamento farmacêutico continua a ser um risco. Há produtos que detêm uma forte componente tóxica. “Não nos podemos esquecer dos últimos avanços na área do cancro. A grande maioria dos últimos produtos que surgiram no mercado são, ou de origem sintética, ou de origem exclusivamente natural. Portanto, não estamos a falar apenas dos cházinhos para a digestão ou para a dor de cabeça”, avisa a investigadora
Estudo botânico, uma investigação com bons resultados
Uma das premissas desta investigação consiste na análise da actividade biológica nas plantas. Os dados obtidos em laboratório confirmam que, em 76 por cento dos casos, os estados brutos das plantas apresentam uma actividade antibacteriana ou antifúngica. Os resultados são surpreendentes e comprovam a eficácia daquilo que os terapeutas tradicionais já manuseiam há muitos tempo, uma sabedoria, que é agora um forte contributo para a investigação em Portugal.
Sofia Pinheiro - 07/12/2005
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